Em um cenário em que a qualidade do ensino presencial na graduação em saúde já é uma grande preocupação, o ensino a distância nesta etapa da formação dos profissionais da área está sendo debatido em Brasília. E o debate ocorre em um auditório lotado por cerca de 180 pessoas, apesar de esta ser uma sexta-feira de carnaval, durante encontro promovido pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), em parceria com o Fórum dos Conselhos Federais da Área da Saúde (FCFAS). O debate se estenderá durante todo o dia.
Estão presentes representantes de conselhos profissionais de todas 14 áreas da saúde, que debaterão estratégias pela preservação da qualidade da formação diante da franca expansão dessa modalidade de ensino na graduação, amplamente estimulada pelo Ministério da Educação (MEC). De acordo com o Sistema e-MEC de Instituições e Cursos de Educação Superior, já estão autorizadas 274,1 mil vagas de ensino a distância em 11 das 14 profissões da saúde. Somente não foram ainda autorizadas vagas para Medicina, Psicologia e Odontologia.
O curso campeão em EAD é o de Serviço Social, com mais de 80 mil vagas. Logo atrás, vêm a Educação Física, com mais de 68 mil vagas, e a Enfermagem, com 59 mil vagas. No caso da Farmácia, que coordena o encontro, 6 instituições de São Paulo, Bahia, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Paraná, oferecem 9.320 vagas. “É preciso deixar claro que as profissões da saúde não são contra a incorporação das novas tecnologias pela graduação, mas a favor da qualidade do ensino que deve ser uma prioridade para os profissionais, para a sociedade e sobretudo para o MEC. Os cursos dessa área têm peculiaridade e possuem competências que exigem a formação presencial, sob pena de prejuízos à saúde da população”, disse o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João.
Para seu funcionamento, os cursos EAD são obrigados a obedecer uma série de pré-requisitos (ver lista abaixo). Essas exigências, que já têm sido descumpridas e que não são suficientes para assegurar a qualidade do ensino, correm o risco de serem abolidas por decisão do MEC. A possibilidade foi anunciada pelo órgão, por meio de sua Coordenação-Geral de Regulação da Educação Superior a Distância – COREAD – DIREG, como proposta de alteração do Decreto nº 5.622/2005 (Regulamenta o art. 80 da LDB, que trata da Educação a Distância), atual marco legal vigente para a regulação do EAD. 
O coordenador adjunto do FCFAS, representante do Conselho Federal de Biomedicina, Edgar Garcez, também encara a questão com preocupação. “A formação em saúde está centrada no cuidado com o ser humano. Não vemos como algo possível desenvolver este lado humanístico sem o contato com o paciente. Não há tecnologia que possa possibilitar o refino manual nas habilidades e competências necessárias no cuidado ao paciente”, justifica Edgar Garcez. “No caso da Farmácia, essa preocupação toma dimensão ainda maior na medida em que a profissão farmacêutica, impulsionada por mudanças verificadas nos últimos cinco anos, envereda cada vez mais em direção à prática clínica”, reforça o presidente do CFF.
O encontro foi aberto com a fala do presidente do CFF, do coordenador do FFCAS e do presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), Ronald Ferreira dos Santos. Em seguida a coordenadora da Comissão Assessora de Educação Farmacêutica (Caef), do CFF, Zilamar Costa traçou um panorama do ensino EAD no país, apresentando as suas considerações a partir da realidade constatada no estudo, que inclui açougues e padarias funcionando onde deveriam estar localizados os polos presenciais das instituições que ofertam cursos EAD de Enfermagem. “A avaliação que se faz é que o ensino à distância na graduação tal como tem ocorrido, ainda não está adequado ao ensino da área da saúde com suas concepções de formação”, comenta.
Fonte: Ascom CFF