A morte de uma jovem de 22 anos anteontem, no Hospital Salgado Filho, no Méier, acendeu o sinal de alerta. A suspeita é que ela tenha sido vítima da síndrome de Guillain-Barré, que vem sendo associada à infecção pelo vírus zika. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, o diagnóstico ainda não foi concluído. Infectologistas e neurologistas, por sua vez, lembram que a doença pode ser desencadeada também por gripe ou diarreia. Mas o caso já leva especialistas a serem taxativos: o óbito precisa ser investigado de forma rigorosa. De acordo com a prefeitura, a paciente deu entrada na unidade na noite de quarta-feira.
Horas depois, já de madrugada, morreu. A secretaria ainda não esclareceu que exames foram feitos, nem quando poderá confirmar a causa do óbito. Tampouco divulgou detalhes dos sintomas apresentados pela jovem. A síndrome de Guillain-Barré acomete, normalmente, o sistema nervoso periférico, podendo provocar paralisia.
No Hospital da Restauração, em Recife, referência em neurologia em Pernambuco, só no ano passado, por exemplo, foram registradas nove mortes por Guillain-Barré, todas associadas ao zika — isso num cenário de 155 casos notificados da síndrome, com 50 deles confirmados.
Já na rede estadual de saúde do Rio, desde julho de 2015 foram notificados 43 casos da doença. Desses, 15 tinham relato de manchas vermelhas na pele — principal sintoma da infecção por zika —, 26 aguardam resultados de exames laboratoriais e dois foram descartados por não terem quadro clínico compatível.
No Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF, em Niterói, são 23 casos em investigação. Segundo Osvaldo Nascimento, chefe da Unidade de Pesquisa Clínica em Neurologia do hospital, tem sido observada uma maior gravidade quando a doença é supostamente desencadeada por zika: — Historicamente, há óbitos, sim, relacionados com Guillain-Barré. Mas, antes da morte da jovem no Salgado Filho, será que ela teve zika? É preciso fazer um diagnóstico preciso.
IDENTIFICAR ORIGEM DA SÍNDROME É DIFÍCIL
Já o infectologista Edimilson Migowski acredita que a gravidade dos casos da síndrome tem mais a ver com as condições imunológicas dos pacientes do que com o fator que os desencadeia. Ele lembra ainda que a doença pode se desenvolver de dez a 42 dias depois de o paciente apresentar um quadro infeccioso. E também defende uma análise cuidadosa da morte da jovem no Salgado Filho. — O diagnóstico de Guillain-Barré não é complicado de fazer. A dificuldade está em descobrir o fator desencadeante da síndrome. Até uma infecção intestinal de um mês atrás pode ser a causa — diz.
Presidente da Sociedade de Infectologia do Rio, Alberto Chebabo explica que a doença pode afetar até a musculatura respiratória. — Os óbitos relacionados à síndrome quase sempre estão ligados a complicações desse quadro.
Normalmente, até o paciente chegar a essa situação, leva um tempo — diz ele, ao comentar o intervalo curto entre a internação e a morte da jovem.
O Ministério da Saúde ressalta que a mortalidade nos pacientes com Guillain-Barré é baixa, de cerca de 5% a 7%, geralmente devido a complicações como insuficiência respiratória, pneumonia aspirativa, embolia pulmonar e arritmias cardíacas.
Segundo os últimos números de 2014, antes dos casos de zika, 161 pessoas morreram em todo o país em decorrência da síndrome. Dessas, 21 foram no Estado do Rio. Por ser rara, no entanto, a doença não tem notificação compulsória.
Fonte: O Globo