Uma nova pesquisa sugere que a enxaqueca pode estar associada a irregularidades no metabolismo de certos lipídeos, abrindo novos caminhos para a investigação de possíveis tratamentos e biomarcadores para a doença [1].
A pesquisa foi publicada online no início de setembro no periódico Neurology e teve foco em um grupo de lipídios bioativos conhecidos como esfingolipídeos, que são componentes críticos de membranas celulares e também desempenham um papel na regulação da homeostase energética, apoptose e inflamação.
Os pesquisadores do Johns School of Medicine destacam que distúrbios neurológicos como resultado de deficiências graves em enzimas que regulam o metabolismo de esfingolipídeos são descritos há muito tempo (por exemplo, a doença de Gaucher), entretanto estudos recentes têm sugerido que mesmo alterações sutis no equilíbrio de esfingolípidos podem estar envolvidas em demência, esclerose múltipla, obesidade, e dor.
De maneira inovadora, em seu estudo, eles mostraram mudanças nos níveis esfingolipídios em pacientes com enxaqueca, implicando particularmente em dois subtipos de esfingolipídios: ceramida e esfingomielina.
Segundo os autores os resultados sugerem que é possível que a enxaqueca seja um distúrbio neurológico “menor” do metabolismo de esfingolipídeos. Entretanto reiteram a necessidade de mais pesquisas, validando as associações de ceramida e esfingomielina com enxaqueca, bem como mecanismos que levam a essas associações… “Isso pode melhorar a compreensão da fisiopatologia da enxaqueca e possibilitar a identificação de novos biomarcadores da enxaqueca e drogas terapêuticas direcionadas contra vias esfingolipídios.”
O estudo…
Para o estudo, 52 mulheres com enxaqueca episódica (com média de 5,6 dias de dor de cabeça por mês) e 36 mulheres sem qualquer dor de cabeça foram submetidas a exame neurológico, estimativa de índice de massa corporal medido, e coleta de amostras de sangue para a dosagem de vários esfingolipídeos.
Os resultados mostraram que os níveis totais de ceramidas foram diminuídos em mulheres com enxaqueca episódica em comparação com aquelas mulheres sem cefaleia. Mulheres com enxaqueca tinham níveis de aproximadamente 6000 ng/mL vs cerca de 10.500 ng/mL para mulheres sem dor de cabeça. Cada aumento do desvio padrão dos níveis totais de ceramida foi associada a uma redução do risco de enxaqueca superior a 90%.
Além disso, foram encontrados dois tipos de esfingomielinas com níveis aumentados em mulheres com enxaqueca, com cada aumento desvio padrão associado a risco 2,5 vezes maior para a enxaqueca.
Os pesquisadores também testaram o sangue de uma pequena amostra aleatória de 14 dos participantes para um painel desses lipídios e foram capazes de identificar corretamente aqueles que tinham enxaqueca ou que eram controles sem dor de cabeça, com base nesses níveis de lipídios no sangue.
Comentário
A enxaqueca é uma condição debilitante, extremamente prevalente, com patogênese pouco conhecida. O estudo comentado indica que a condição pode estar relacionada a alterações “menores” no metabolismo de esfingolipídeos, em especial ceramida e esfingomielina. Essa descoberta, apesar do reduzido número amostral, abre portas para novas pesquisas, com foco em diagnóstico e novas linhas de tratamento.
Referências
Peterlin BL, Mielke MM, Dickens AM, Chatterjee S, Dash P, Alexander G, et al. Interictal, circulating sphingolipids in women with episodic migraine: A case-control study. Neurology [Internet]. Lippincott Williams & Wilkins; 2015 [cited 2015 Sep 13];10.1212/WNL.0000000000002004. Available from: http://www.neurology.org/content/early/2015/09/09/WNL.0000000000002004.abstract
Fonte: https://farmaceuticoclinico.com.br/groups/view/5/topic_id:1492/show:topics